Levantamento de peso teve título inédito em Pans e badminton, a 1ª medalha individual, mas outras modalidades não produziram muito
Marcel Rizzo e Vicente Seda, enviados iG a Guadalajara | 31/10/2011 20:26
Desde 2001, a Lei Agnelo/Piva destina 2% da arrecadação das loterias federais para os esportes olímpicos, via COB (Comitê Olímpico Brasileiro), que faz a divisão com base em desempenho. No
Pan-Americano de Guadalajara, o impacto desse investimento foi sentido em algumas modalidades, mas não teve uma influência generalizada, especialmente as menos tradicionais.
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Fernando Reis ganhou ouro inédito para o Brasil no levantamento de peso
Em 2010, o COB arrecadou R$ 142,7 milhões com a Lei. Parte desse dinheiro o Comitê usa para sua própria manutenção e para, por exemplo, pretensões em receber eventos, como fez em sua campanha para sediar os
Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Deste montante, parte tem de ser repassada para esporte universitário (10%) e também para o esporte escolar (5%).
Os
dirigentes do COB, por sua parte, procuram desvincular esse montante recebido do conceito de verba estatal. “Esse é o principal financiador do esporte de alto rendimento hoje, sem dúvida, vindo de um percentual das loterias. Então é uma discussão se é público ou privado. Não vejo bem como público", disse o superintendente do COB, Marcus Vinícius Freire. De todo modo, Freire não esconde que gostaria de ver mais investimentos endereçados ao esporte e facilitados por parte do governo. "A lei de incentivo ao esporte pode crescer mais, ser mais usada para atletas de alto rendimento e, daqui para frente, os patrocinadores privados do COB e das confederações serão importantes nessa questão também.”
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Esse investimento, porém, não vem se mostrando uma garantia de resultados. Entre as 23 modalidades olímpicas que recebem verbas, algumas com um menor número de praticantes, como o
levantamento de peso e o
badminton mostraram sinais de progresso já em Guadalajara. Outros, porém, nem tanto: o
ciclismo e o
tiro com arco foram as únicas que não conseguiram um pódio sequer. O
hóquei sobre grama, o que menos recebeu dinheiro nos últimos dois anos, nem se classificou para a competição.
Evolução
Com pouco mais de R$ 2,1 milhões de receita nos últimos dois anos, o levantamento de peso contratou um técnico cubano, mandou os atletas participar de torneio fora do país, e o resultado apareceu: a primeira medalha de ouro em Pans, com
Fernando Reis, que na categoria mais de 105 kg levantou 410 kg e bateu o recorde da competi. Com apenas 21 anos, ele é uma das revelações do esporte, que em 2008, depois de 12 anos, voltou a ter representantes em uma Olimpíada, com Wellison Silva – que ficou em 12° lugar na prova de arranque.
Foto: Scott Heavey/Getty Images Ampliar Daniel Paiola conquistou a inédita medalha de bronze no individual
Terceiro esporte que menos recebe da Lei, com R$ 1,77 milhão, o badminton fez o primeiro medalhista individual da história dos Pans,
Daniel Paiola. Com o dinheiro que o COB recebe a modalidade mantém um centro de treinamento em Campinas, que tem muitos garotos.
Veja como ficou o quadro de medalhas
“O objetivo agora é conquistar essa vaga olímpica. Preciso ser entre o 70 e 75 do mundo até abril de 2012 para estar classificado, algo que seria sensacional”, disse Paiola. Antes do Pan, o jogador era o número 86 do ranking, mas, com o terceiro lugar, deve subir algumas posições no ranking.
Sem pódio
Por outro lado, o ciclismo recebeu em 2009 e 2010, somados, mais de R$ 3,7 milhões. A receita serviu para que atletas pudessem competir na Europa, para a compra de equipamentos e formação de jovens. Quem mais chegou perto de uma medalha foi
Sumaia Ribeiro, que ficou em quarto lugar no keirin feminino. No fim, ela teve de se contentar em ter feito o recorde brasileiro nessa prova de velocidade, com 11s335, que derrubando marca que durava desde o inicio dos anos 90.
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"Há evolução, esse recorde que bati mostra que o trabalho está sendo bem feito. Estamos competindo fora, enfrentando os melhores, a tendência é o resultado ser ainda melhor nas próximas competições", disse Sumaia.
Sem medalha no Pan, Sumaia Ribeiro espera ao menos obter vaga olímpica
A previsão para os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, é de classificação na categoria pista, a de Ribeiro, o que não aconteceu em 2008, quando o Brasil só teve representantes em estrada. Era algo que parecia improvável de se repetir, se levado em conta o fato de que o Brasil não enviou representantes ao Mundial da categoria deste ano, na Holanda, mas a
UCI (União Ciclística Internacional) concedeu à confederação brasileira quatro vagas no ciclismo estrada, justamente nesta segunda-feira, sendo uma delas para o contra-relógio.
O tiro com arco é o esporte que há mais tempo não ganha uma medalha em Pan-Americano – a última foi em 1983, no Pan de Caracas. Com R$ 1.775.984,16 de investimento nos últimos dois anos, em Guadalajara não foi diferente, mas colocou
Daniel Xavier, nas quartas de final, fase na qual perdeu apenas por 6 a 4 do mexicano Rene Serrano, estrela do esporte e ídolo do país.
“Temos que competir por espaço nos clubes com o futebol, por exemplo, já que o tamanho do campo é mais ou menos o mesmo. Mas o investimento nos proporcionou uma equipe permanente em Campinas e contratar um técnico estrangeiro
(o coreano Lim Heesk). A tendência é os resultados aparecerem”, disse o chefe de delegação do tiro, Rubens Terra Neto.
Ricos seguem ricos
Os esportes tradicionais, como
atletismo,
natação (que se situa na cota dos desportes aquáticos com mais quatro modalidades) e o
judô, são os que mais recebem dinheiro (veja tabela abaixo) e corresponderam com o maior número de medalhas.
A
ginástica, que saiu de Guadalajara vitoriosa entre os homens na ginástica rítmica e com uma
atuação frustrante e cheia de atrito das mulheres, ficou em quarto no ranking. O
vôlei foi quinto, que em 2009 e 2010 recebeu mais de R$ 5 milhões, teve 100% de aproveitamento, com quatro ouros (na quadra e na praia).
Confira o valor recebido da Lei Agnelo/Piva nos últimos dois anos e medalhas conquistadas em Guadalajara
MODALIDADE | VALOR RECEBIDO | MEDALHAS EM GUADALAJARA |
Atletismo | R$ 5.897.919,50 | 24 (10 ouros, 6 pratas e 8 bronzes) |
BADMINTON | R$ 1.777, 585,77 | 1 (bronze) |
BASQUETE | R$ 3.620.449,88 | 1 (bronze) |
BOXE | R$ 3.127.877,51 | 5 (2 pratas e 5 bronzes) |
CANOAGEM | R$ 3.741.585,14 | 4 (2 pratas e 2 bronzes) |
CICLISMO | R$ 3.726.914,35 | 0 |
DESPORTOS AQUÁTICOS | R$ 5.262.406,91 | 24 na natação (10 ouros, 6 pratas e 8 bronzes); 2 no polo aquático (2 bronzes); 2 no nado sincronizado (2 bronzes); 1 no saltos ornamentais (1 bronze); 1 na maratona aquática (1 prata). Total: 30 |
ESGRIMA | R$ 2.152.011,75 | 3 (bronze) |
GINÁSTICA | R$ 5.283.538,91 | 6 na ginástica artística (3 ouros, 1 prata e 3 bronzes); 7 na ginástica rítmica (3 ouros, 1 prata e 3 bronzes); 1 1 na ginástica trampolim (1 prata). Total: 14 |
HANDEBOL | R$ 4.920.064,94 | 2 (1 ouro e 1 prata) |
HIPISMO | R$ 3.971.315,76 | 2 nos saltos (1 prata e 1 bronze); 1 no CCE (1 bronze). Total: 3 |
JUDÔ | R$5.985.064,62 | 13 (6 ouros, 3 pratas e 4 bronzes) |
LEVANTAMENTO DE PESO | R$ 2.130.818,86 | 1 (ouro) |
LUTAS | R$ 1.848.681,77 | 2 (1 prata e 1 bronze) |
PENTATLO MODERNO | R$ 1.938.159,53 | 1 (1 prata) |
REMO | R$ 3.808.429,23 | 2 (pratas) |
TAEKWONDO | R$ 2.103.237,43 | 1 (bronze) |
tÊNIS | R$ 2.656.401,84 | 2 (prata e bronze) |
tênis de mesa | R$ 3.419.712,69 | 1 (ouro) |
tiro com arco | R$ 1.775.984,16 | 0 |
tiro esportivo | R$ 2.798.637,24 | 6 (1 ouro e 5 bronzes) |
triatlo | R$ 2.645.909,69 | 2 (1 ouro e 1 bronze) |
vela | R$ 4.362.543,70 | 7 (5 ouros, 1 prata e 1 bronze) |
vôlei | R$ 5.381.116,95 | 2 no vôlei de quadra (2 ouros); 2 no vôlei de praia (2 ouros). Total: 4 |
Fonte:
IG Esporte